quinta-feira, 24 de setembro de 2009

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Simplicidade e Complexidade

Por Vinicius Carvalho da Silva

O que é a Verdade? Ela é simples ou complexa? Eis as questões que se impõem para exame. Gostaria de analisá-las apresentando algumas teses. Mas, já de inicio, se ergue uma dificuldade paradoxal: Como poderei tratar da Verdade partindo de Teses, que podem alegar alguns, são “pontos de vista revestidos de erudição”? Bem, aplicando aqui a Filosofia do Pragmatismo, penso que, se ao final de nossas investigações, tais teses revelarem-se úteis em aumentar nossa compreensão do tema, se tiverem eliminado ambigüidades, concorrido para que diante de paradoxos, possamos transcendê-los ao invés de nos viciarmos neles, enfim, se tais teses derem resultados satisfatórios na solução de problemas e na dissolução de confusões, então isso é o que nos importa, sem mais delongas.
A primeira tese que quero apresentar é uma tese lógica e ontológica, e não apenas semântica: Tudo que existe e’ Natural. Como salientei acima, não se trata apenas de usar a palavra “natural” ao invés de “sobrenatural”, mas de compreender a falácia lógica em que incorrem os sobrenaturalistas: O conceito de natureza que ora apresentamos abrange tudo o que existe. Natural e existente, portanto, se equivalem. Se B não é natural, logo B não existe. Alegar que um fenômeno sobrenatural é real, é o mesmo que dizer que o não-real é real. Sendo assim, podemos compreender que ainda não haja explicações para todos os fenômenos, que não os compreendemos, ou mesmo que não podemos fazê-lo, mas se tais fenômenos existem, então fazem parte da grande natureza.
Tudo faz parte da mesma natureza universal. Natureza é aqui, em certo sentido, o Ser de Parmênides: O Ser é , e o não Ser não é . Entretanto, recorrendo a Heráclito, para que possamos entender toda a riqueza, vastidão e diversidade da Realidade, temos de compreender que o Ser possui e expressa toda a gama de matizes possíveis, que se alternam em ciclos dialéticos, trialéticos etc., criando, destruindo e recriando todas as estruturas do Cosmos. A clássica divisão entre “mundos”, o mundo natural e o mundo sobrenatural é uma confusão entre a parte da natureza que é conhecida e a parte que é desconhecida. Sendo assim, no passado, poderíamos pensar que uma aurora boreal, um peixe que brilha, animais estranhos, eram coisas sobrenaturais. Isto acontecia somente porque desconhecíamos os princípios naturais destes fenômenos. Em suma, eles, claramente, eram naturais, embora fossem externos ao campo de abrangência do escopo de nossos conhecimentos.
A segunda tese complementa diretamente a primeira, é uma tese epistemológica: Dada a vastidão do Cosmos e sua riqueza, sempre haverá um déficit, por mais que o intelecto se desenvolva, entre a totalidade de conhecimentos da humanidade e a totalidade de informações presentes no universo. Ou seja, alguma parte da natureza sempre vai ficar para além das possibilidades científicas. Sendo assim, muito do que os homens de uma era consideraram como sendo sobrenatural, ou mesmo ignoravam completamente, em eras posteriores tornou-se o saber comum e evidente. Deste modo, a natureza sempre se revela mais rica do que podemos supor, e nesse mesmo instante, deixamos de perceber, conhecer e compreender, uma vasta gama da realidade. Darei dois exemplos: Até 1924 a Ciência acreditava que a Via Láctea, nossa galáxia, era tudo o que existia, era “o” Universo. Nessa visão de mundo, o Universo era do tamanho de uma única galáxia. Em 1924, o astrônomo norte americano Edwin Hubble demonstrou que a Via Láctea não era a única galáxia existente. Hubble descobriu que existem inúmeras galáxias, muito distantes entre si. Quando estava fazendo doutorado, Hubble notou que a astronomia moderna já havia catalogado 17 000 objetos nebulosos no espaço. Cerca de 150 000 objetos nebulosos podiam ser vistos pelos telescópios da época. A ciência considerava que estes objetos poderiam ser agrupamentos de estrelas que faziam parte de nossa galáxia. Estudando o brilho e o movimento destes objetos, Hubble notou que eles estavam muito distantes do raio calculado da Via Láctea, e conclui que se tratavam de outras galáxias. Assim começamos a explorar o espaço, descobrindo que ele se revela cada vez maior. Hoje sabemos que existem mais de 100 bilhões de galáxias, cada uma dessas com 100 bilhões de estrelas, em torno das quais podem orbitar trilhões de planetas. Outro exemplo: O materialismo cientifico pressupõe que tudo o que existe é natural, e tudo o que é natural é físico, e físico é tudo aquilo que é constituído por partículas elementares de matéria, e que pode ser explicado em termos, portanto, de partículas, e de suas interações, bem como da existência de um vazio, ou, espaço, que permita o arranjo geométrico-topológico destas partículas, de modo que possam configurar formas cada vez mais arrojadas, das mais simples moléculas, aos super-aglomerados de galáxias. Neste sentido, o materialismo científico é a pressuposição de que a causa de todos os corpos e processos do universo é material. A mecânica quântica parece, contudo, sugerir a substituição do materialismo científico, por um “novo naturalismo científico”, dentro do qual, tudo que existe, é natural, mas a própria matéria seria uma conseqüência física de um outro estado natural que precede o nível das partículas subatômicas, e que, neste sentido, é imaterial. Leis Naturais profundas, descritas pelo formalismo matemático, moldam e geram a matéria. Neste novo cenário, o materialismo, que ainda ontem pela noite era a postura intelectual mais prestigiada, hoje, no fundo, já não faz sentido. Sendo assim, precisamos desfazer mais esta confusão: dizer que tudo é natural não é o mesmo que dizer que tudo é material.


ou seja:

Aquilo que é material está contido no conjunto da natureza, e não o contrário, como defendia a tese materialista.
Para ilustrar o que tratamos acima, daremos um exemplo de cosmologia contemporânea: Em 1933 o astrônomo suíço Fritz Zwick calculou a massa total do aglomerado de galáxias "Coma" baseado no movimento das galáxias que se situavam próximas de sua borda. O movimento destes corpos forneceria uma estimativa da massa do aglomerado e, portanto, da quantidade de sua matéria, afinal, o movimento relaciona-se com a força gravitacional que é proporcional ao valor da massa. A força gravitacional entre dois corpos enfraquece pelo quadrado da distancia entre eles. Se a distancia aumenta em 3, a força gravitacional enfraquece em 9. Sendo assim, os objetos que Zwick observou deveriam estar movendo-se muito mais lentamente do que de fato se moviam, pois se encontravam bem afastados do núcleo do aglomerado, e portanto sofriam pouca influencia gravitacional por parte da matéria presente naquele sistema. Zwick fez uma estimativa da massa total do aglomerado "Coma" baseado no número total de suas galáxias e no brilho emitido por elas. Cada elemento químico reflete ondas com comprimentos diferentes. Cada comprimento de onda é uma cor. Portanto, pela cor do brilho emitido por um corpo, podemos, teoricamente, saber quais elementos químicos ele possui, e se afasta-se ou aproxima-se de nossa direção.Como cada elemento possui uma densidade, podemos calcular a densidade média de um corpo celestial através da intensidade de seu brilho em uma determinada cor. O brilho de uma galáxia em uma cor especifica revela que ela é rica no elemento correspondente. Assim, calculando o número de galáxias e seus brilhos, Zwick obteve que o total da massa do aglomerado "coma" era x, mas verificou que a quantidade de matéria necessária para que os objetos em sua borda se movessem na velocidade em que se moviam era de 400x. A única conclusão era que o aglomerado deveria ter 400 vezes mais matéria do que realmente possuía. Ou seja, Zwick descobriu que o aglomerado era em grande parte composto por algo "misterioso e imperceptível diretamente" e que não poderia ser classificado como matéria comum.
Depois destes primeiros estudos, a comunidade científica se empenhou em pesquisar o assunto, e os termos "matéria escura" e "energia escura" surgiram para representar essa composição oculta do universo. Em 2003, a Nasa enviou ao espaço um laboratório espacial denominado Wmap, com o objetivo de estudar a composição cosmológica. Constatou-se que 96% do Universo é composto por algo “misterioso”. Deste montante, 23% seria matéria escura e 73% seria energia escura, uma substância ainda mais misteriosa, que não reflete luz,e portanto é invisível. A Wmap constatou que apenas 4% do universo é feito de matéria comum, ou seja, daquilo que pensávamos que perfazia 100% de tudo o que existe. Destes 4%, 3,6% são gases inter-estelares que só existem no espaço, e somente 0,4% é matéria comum, dessa que galáxias, planetas, e pessoas como eu e vocês são feitos!
Antes de apresentarmos outra tese, antecipemos uma “noção” importante: A Verdade parece ser tanto simples quanto complexa. Niels Bohr, Nobel de Física, um dos fundadores da mecânica quântica, desenvolveu o princípio da complementaridade, segundo o qual as naturezas de onda e de partícula, não são naturezas contraditórias dos objetos quânticos, mas complementares. Bohr tentou estender o principio da complementaridade para diversos aspectos da natureza e diversos campos de atividade humana, como forma de entender a ligação profunda entre os opostos ao invés de ressaltar suas dicotomias. Foi muito criticado, por esse “audacioso projeto filosófico”(Por exemplo, por Roland Omnes, em Filosofia da Ciência Contemporânea). Mas creio que a complementaridade deve, de fato, ser aplicada na presente questão. Simplicidade e Complexidade se complementam, são criadas, uma a partir da outra, mutuamente. São aspectos da mesma e vasta realidade. Não são contraditórias. A Verdade é Simples, porque o que aqui tomamos por Verdade é a realidade autêntica de cada coisa, “seu estado natural”. Ou seja, Verdade, Realidade, Natureza, são conceitos equivalentes que apontam para a mesma direção: aquilo que é, como é. O que queremos dizer é que a verdade de uma coisa, não é nada mais, nada menos, do que “o modo pelo qual uma coisa existe”, “porque existe” e “como existe”, Digamos uma xícara. Enquanto matéria, a verdade da xícara envolve uma infinidade de processos complexos, como e = mc² , que permitem que um super aglomerado atômico configure aquela forma de xícara no espaço-tempo. Enquanto xícara a verdade da xícara envolve as relações entre sua missão, sua função, sua forma, bem como a cultura que a produziu. A missão da xícara é nos possibilitar conforto e sua função é conter matérias líquidas comestíveis, como chás e cafés. As suas formas podem variar conforme a cultura onde é produzida e a criatividade de quem a produziu. Sendo assim, é Verdade que a Terra gira em torno de si mesma, e por isso vemos o sol levantar-se no leste e se pôr no oeste. Eis uma Verdade tão Simples, que ninguém que “observa o fenômeno” ousaria, em saudável consciência, duvidar de seu acerto. Mas o lado oculto desta verdade simples, sua natureza complexa, são aqueles fatores astrofísicos que fazem com que isto seja desta forma. Ou seja, por detrás desta verdade simples, funcionam as complexas leis astronômicas da natureza, aquelas tratadas por homens como Kepler, Newton e Einstein, e que descrevem como se dão as órbitas e os movimentos celestes. Parece que o Cosmos, com toda sua beleza, ordem e elegância, precisa sustentar com profundidade, cada pequeno fato do mundo, para manter simples a verdade. Se jogamos uma folha do alto de nossa mesa, a verdade é simples: Ela cairá. Mas a que velocidade, onde e como, depende de uma vastidão de aspectos. Seu peso, a intensidade do campo gravitacional da terra, se há correntes de ar no cômodo, e se houver, em que direção e em que velocidade se deslocam, etc. Para que a verdade: solte a folha e ela vai cair, se sustente, outras verdades sutis e arrojadas, como a lei cósmica gravitacional, e encadeamentos descritos pela teoria do caos, existem e operam. O simples e o complexo, face a face, edifício e alicerce. Contudo, ressaltemos que esta ultima tese só faz sentido antropocentricamente. Ou seja, um fenômeno somente é simples ou complexo quando contemplado pela razão. Dizemos “simples” os que entendemos, e “complexos” os que entendemos com labor ou não entendemos. Sem razão que contemple o Universo, ele nem é simples, nem complexo, ele simplesmente é .
Carl Sagan, astrônomo, autor de “Cosmos”, nos chama a atenção, nesta obra, que, do ponto de vista cientifico, levando em conta a vastidão do Universo, a quantidade de galáxias, calculando a probabilidade de que haja vida em outros rincões cósmicos, chegamos a conclusão que, realmente, o Universo é vasto e rico o bastante para abrigar diversas formas de vida, além do sistema biológico terráqueo. Na verdade, diz Sagan, há matéria orgânica em abundância no espaço. Em condições propicias, ela pode gerar vida. Isaac Asimov, químico e escritor de ficção científica aventa a idéia da possibilidade de estruturas orgânicas baseadas em elementos químicos diferentes, que não aqueles em que as formas conhecidas de vida se baseiam. Sagan nos lembra que a humanidade é uma espécie muito nova. Isto significa que, se houver seres vivos meta- terráqueos, eles tiveram tempo suficiente para terem evoluído e formado civilizações extremamente desenvolvidas, milhares, até milhões de anos a nossa frente.
Enrico Fermi, físico italiano, um dos maiores cientistas do século XX, chegou a essas mesmas conclusões, quando estava no Laboratório Nacional de Los Alamos. Mas deu pela falta de visitas alienígenas,e se perguntou, onde estão os outros ... O astrofísico brasileiro, Marcelo Gleiser, tentou resolver o dilema da seguinte forma: Ou outras civilizações não existem, e os homens são a única forma de vida inteligente do universo, (o que descartou pela arrogância da proposição), ou eles estão por toda parte (o que descartou pela falta de provas científicas), ou já existiram, dominaram uma tecnologia avançada, e se aniquilaram. Para Gleiser, a humanidade passará por uma profunda transformação moral e espiritual em breve, superando a possibilidade da auto-extinção. Em cem anos o planeta será muito mais estável, política, social e economicamente, ou seja, em nível global, a qualidade de vida da humanidade se elevará bastante, as relações internacionais serão muito mais amigáveis, pois teremos nos unido globalmente para solucionarmos problemas comuns ao Planeta, como o aquecimento global, conseqüência do estilo de vida atual. Em milhares de anos poderemos ter colonizado a Galáxia, espalhado vida por toda parte, e termos nos tornado seres muito mais mentais do que físicos. Daqui a milhões de anos, poderemos ter nos espalhado pelo Cosmos, e constituirmos uma Mente Coletiva ultra desenvolvida, vivificando o universo com nossa criatividade. Na obra “The Last Question”, Isaac Asimov fala de um cenário parecido, no qual, milhões e milhões de anos no futuro, a humanidade tornou-se uma vasta Mente, uma realidade muito mais “espiritual” do que “material”.
Michio Kaku, físico nipo-norte americano, autor de “Hiperespaço” chama atenção para a seguinte tese: Parece haver um principio cósmico de seleção natural de civilizações, e não somente de espécies. Qualquer civilização que atinja um elevado nível científico-tecnologico, dominando, por exemplo, a tecnologia nuclear, ou evolui espiritualmente, adquirindo uma nova e elevada moral, ou promove sua auto-extinção. O motivo é óbvio: Tecnologia na mão de seres egoístas, ardilosos, irresponsáveis, sempre gerou guerra, e pela primeira vez temos tecnologia suficiente para nos destruirmos totalmente. Como disse Einstein, não sabemos como vai ser a terceira guerra mundial, mas a quarta será lutada a paus e pedras. Se, portanto, além de outras espécies vivas, houver outras civilizações tecnologicamente mais desenvolvidas do que a humanidade, podemos esperar também que sejam espiritualmente superiores, ou seja, que sejam também mais sábias, e não apenas mais ricas e mais velhas. Talvez por isso, respondendo a Fermi e a Gleiser, mesmo que eles estivessem aqui, agora, poderíamos não perceber, porque enquanto, comparados a eles, ainda somos grosseiros, eles seriam sutis, não nos seus corpos, ou não somente nos seus corpos, mas também nos seus métodos de contato, e quiçá, de controle ou intervenção, pois talvez eles já sejam mais Mente do que Corpo. Seja como for, o Cosmos pode ser uma vasta incubadora, um processo de criação gerando vida por todo o espaço-tempo. Essas civilizações, se existirem, podem dominar tecnologias tão avançadas, que para a razão humana, eles serão como deuses, assim como os homens que habitavam os trópicos pensaram que eram deuses os portugueses, com seus imensos navios e armas de fogo. Como disse Henri Bergson, em “As duas fontes da moral e da religião”, “o universo é uma máquina de produzir deuses”. Enfim, toda esta digressão fizemos para que, ao final, pudéssemos concluir uma coisa óbvia: Para uma civilização milhões de anos mais evoluída que a nossa, aquilo que nos parece absurdamente complexo, é na verdade, absurdamente simples. Chegamos então ao desenlace final. Nossa última tese, que seria epistemológica e pragmática: os conceitos de simplicidade e complexidade, portanto, somente fazem sentido em referência ao nosso estágio de conhecimento, e são falsos ou verdadeiros na medida em que nos possibilitam, ou não, compreender melhor: (a) a natureza do mundo, (ao que se propõem as ciências naturais, como a Física e a Química, alicerçadas nas ciências formais, como a Lógica e a Matemática), (b) e do próprio conhecimento, (ao que se propõe a Filosofia do Conhecimento, a Lógica e ramos das Neurociências).
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Filosofia Aplicada: Saber filosófico e desenvolvimento tecnológico.
Vinicius Carvalho da Silva

Qualquer pessoa pode saber que a Filosofia serve para muitas coisas, dentre as quais, penso que seu propósito mais nobre, sutil e profundo, é em certa medida nos despertar do torpor vazio que sem se anunciar claramente, vai se instalando aos poucos, embrutecendo aos poucos, roubando a reflexão e a criatividade das pessoas, e substituindo-as por uma acomodação, uma lerdeza intelectual, uma falta de “vontade de pensar” e “vontade de crescer”. Ou seja, o que a meu ver é lindo e potente no processo filosófico, é o convite que a Filosofia nos faz para repensarmos a Vida e o Mundo, e para construirmos vidas e mundos novos.
Mas este brevíssimo texto almeja tratar de outra faceta filosófica bem menos discutida publicamente: O papel fundamental da produção filosófica no desenvolvimento do campo tecnológico. Alguns meses atrás eu estava participando de um projeto no Departamento de Física e Nuclear e Altas Energias da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, quando um colega me perguntou para que servia a filosofia. Na verdade, ele se indagava se a filosofia tem alguma utilidade prática. Vivemos em uma sociedade tão mercadológica que desprezamos aquilo que não tem nenhuma utilidade prática, que não gera altas somas de investimentos, que não vende. Pois bem, muito claramente disse a ele que Filosofia é tecnicamente (e não apenas conceitualmente) fundamental para, por exemplo, ler um artigo na web, falar no celular, operar a bolsa de valores, ou desembarcar um contêiner no porto de Santos. Ele pensou que eu estava sendo irônico, mas a ironia era que eu não estava...
A questão é muito simples: Um dos ramos da Filosofia é a Lógica, e a Lógica Formal é simplesmente o alicerce fundamental da Ciência da Computação. Todos os computadores funcionam de acordo com as leis da lógica. Qualquer máquina computadorizada, no mundo inteiro, para funcionar, é programada com operações de lógica formal, e lógica formal, é Filosofia.
Roland Omnes, professor de Física da Universidade de Paris e pesquisador do CERN, Centro Europeu de Pesquisa Nuclear, em sua obra “Filosofia da Ciência Contemporânea” nos esclarece alguns pontos importantes para o assunto que ora abordamos:

1.A Lógica Formal é a “Ciência dos símbolos e das relações”(Omnes, 1996, p 112)

1.2. A Lógica e a Matemática são irmãs gêmeas. A matemática contemporânea está alicerçada na lógica contemporânea: “As matemáticas de hoje repousam inteiramente em uma base axiomática. Fundamentam-se num sistema de símbolos sem relação direta com a realidade e submetido as suas próprias regras, cuja característica dominante é uma completa submissão à lógica, também ela formalizada, simbolizada.”(Omnes, 1996, p 125). (Um dos teoremas mais importantes da matemática contemporânea é o teorema de Godel, que é um teorema de Lógica, com profundas repercussões para a Matemática e a Física).

1.3. “Os computadores, no fundo, não passam de máquinas de fazer lógica formal” (Omnes, 1996, p 109). “Mas o que dirão que há de já pressuposto no funcionamento do computador? A resposta a isso é que ele funciona segundo as regras elementares da lógica formal descobertas por Frege e Peano, o que nos contentaremos em aceitar.”(Omnes, 1996, p 115).

Gottlob Frege (1848-1925) foi o filósofo que segundo muitos, mais contribuiu para o desenvolvimento da Lógica Formal, que de acordo com os tópicos de Rolnad Omnes, enumerados acima, fundamentam tanto a matemática contemporânea quanto a informática. Mas a lógica formal foi precedida por outro grande pensador, Leibniz, cujos estudos sobre as operações binárias é igualmente fundamental tanto para a lógica quanto para a informática. Todos os estudantes de informática sabem que todas as informações processadas pelos computadores, são operações binárias, tipo 0 e 1.

Não nos aprofundaremos mais sobre aqui. Este texto não e’ um manual de informática e a quem quiser saber mais, recomendo o livro de Omnes. Por hora, basta que venhamos a saber que a informática encontra-se ancorada na Lógica, que é uma área puramente filosófica, (um grande fluxo ocorre dos grandes institutos de lógica para as grandes empresas de tecnologia) e que hoje, a lógica é cadeira indispensável em qualquer curso de informática de nível superior. Sendo assim, diríamos que a filosofia é aplicada tecnologicamente na informática. Como todo o mercado mundial, toda a economia global, todos os governos do mundo, todo o comércio, a política e indústria internacionais dependem diretamente de produtos e serviços computadorizados, chego a simples conclusão de que a filosofia está diretamente ligada à dinâmica econômica mundial, gerando e atraindo bilhões de dólares por ano. A Filosofia da Lógica Formal aplicada na Ciência da Computação, é uma das maiores responsáveis diretas pelo desenvolvimento tecnológico do mundo contemporâneo, e essa é uma verdade dura e inusitada para os que pensavam que filosofia não servia para nada...